sexta-feira, 2 de setembro de 2011

arrifana 2011...

para todos os meus amigos essenciais.

altas ondas na arrifana e surfei com a minha body o meu grande a migo pedro e a minha qurida amiga flamenca

nós é que vivemos


abraço a todos


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Não há ondas?? Vou correr...

Vinte metros… era a distância que nos separava.

Eu tinha acabado de fazer a curva, na minha corrida matinal, e pela primeira vez, desde que fazia este percurso, que a via correr. Depois da curva agora era a subir, até aos semáforos. Há algum tempo que eu não corria e temia que o cansaço chegasse mais cedo que a vontade. Ela lá ia à sua frente, passada com cadência, nádegas a marcar o ritmo que nem o som de um relógio de sala, tique taque tique taque.
Não podia deixar a distância aumentar. Tinha de encurtar e ultrapassar. Queria ver a sua cara, cumprimentá-la.
Chega à frente, disse para mim. Lembrou-se de ser esta a frase utilizada pelos instrutores quando prestou serviço militar. Aqui não era necessário dizer a motivação estava a correr à minha frente. Chega à frente, repetiu de novo.

Quinze metros… estava confiante.

Ela continuava com a sua passada e eu inclinava o corpo para a frente ao correr. Indiferente à minha corrida.
Eu a querer mostrar a minha frescura física neste trajecto sempre a subir, sem uma única descida ou horizontal. O suor corre pela cara e incomoda a visão. Limpo com a manga da camisola. Endireita as costas e não mostres que estás cansado, digo. Cansado? Eu? Nem por sombras… penso.

Dez metros…

Mais um pouco de velocidade e chego ao pé dela antes dos semáforos no topo da subida.
Ela continua. Parece imperturbável a tudo o que acontece à sua volta. O carro que apita quando passa por ela em sentido contrario, o tipo que bebe café na esplanada e segue a sua corrida com o olhar, a mulher de bata, com cabelo emproado e lacado, que passeia a inveja pela trela quando a vê passar e na paragem de autocarro as duas amigas riem no ciúme do corpo que gostavam de ter.

Cinco metros…

Respira com calma, penso agora. Inspira pelo nariz, expira pela boca e assim aumentas o rendimento do esforço, continuo a pensar.
Ela continuou a marcar o trajecto com a sua passada. Calção justo da cor do mar e lycra de alças, branca. Contrasta com o moreno das férias. Cabelo apanhado em rabo-de-cavalo, que balança, tal e qual um ponteiro de um metrónomo, e marca o ritmo musical da sua corrida.

Um metro…

Alarga a passada, oiço no meu interior. Estás de novo com o corpo inclinado para a frente, repito para mim. E continuo, Olha a respiração, está tudo atabalhoado, não desistas falta tão pouco para a ultrapassares e num bom dia que dirás, vais ver o seu sorriso a devolver o cumprimento.

Estás lado a lado…

Bom dia, digo e olhei para ela.
Não há sorriso de volta só silêncio.
Olha em frente e continua a correr como fizeste nestes últimos metros, de novo a voz incomodativa dentro de mim. Se ela tentar ultrapassar ou acompanhar-te tens companheira de corrida, diz a voz de novo.

Está a dois metros de ti…

Quando passei pareceu-me ver algo de diferente. Deve ser do cansaço e do suor a escorrer nos olhos. Continua. Não aumentes o ritmo e mantém a distância, pensa de voz silenciosa.
Oiço o som dos seus passos atrás de mim. Não sinto aproximação.
Uma picada na minha perna direita???? Deve ser uma mosca, livra nem a correr as moscas deixam de picar.
Mantém o passo, mantém o passo, insisto comigo. Mais um pouco de esforço, assim que chegar aos semáforos é a descer. Mantém o ritmo, anda lá, continua a voz.
Nova picada e a perna fraqueja.
Ai!!!
Agarro-me à perna e coxeio. Tenho de parar. De novo a distensão muscular.
Insisto… não dá. Paro e encosto-me ao sinal de stop do cruzamento.
Ela aproxima-se, mantém a sua passada, olhar em frente e novo silêncio ao cruzar o sinal de stop, onde estou. Uma lesão antiga quando corria no Benfica, falo alto para ela ouvir.
nenhum comentário. Nada.
Quando passou por mim é que reparei no que tinha achado de estranho ao passar por ela. O porte musical de passada certa e cadenciada confirmava-se, mas apresentava uma ligeira zona acinzentada no lábio superior e junto das orelhas. O olhar é afunilado. Por esta razão não devolveu o cumprimento de sorriso e não me viu, penso eu. E ainda bem, murmuro.
Não consigo correr e tenho de voltar para casa com a distensão.
Há manhãs assim… inesperadas.

(a corrida matinal ocorreu tudo o resto é ficcional, menos a distensão)